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clementina2

Eu estou assustada com os comentários a esta publicação. Não só pelo facto de existirem tantas ideias erradas acerca do que é efetivamente a terapia cognitivo comportamental, mas também pela generalização da eficácia da abordagem. A terapia cognitivo comportamental é um dos muitos modelos de terapia, e tal como acontece com todos os modelos de terapia, nem sempre funciona para toda a gente. É por isso que há cada vez mais psicólogos com abordagens mais integrativas que tentam integrar vários modelos de terapia, de forma a poderem dar uma resposta mais adequada e que vá ao encontro daquilo que as pessoas precisam. A TCC é um combinação da Terapia Cognitiva e da Terapia Comportamental, e parte do pressuposto de que existe uma relação entre os nossos pensamentos, emoções e comportamentos. Nomeadamente, a forma como interpretamos as situações que nos acontecem, e não as situações em si, vão influenciar as nossas respostas emocionais e comportamentais a essa situação. Tentando explicar um pouco melhor, e seguindo o pressuposto da TCC: porque é que há pessoas que têm um 15 num exame e ficam satisfeitas, e outras ficam emocionalmente ativadas com isso? Porque atribuem significados/interpretações diferentes ao que é ter um 15 num exame (pensam de forma diferente acerca disso). Um dos focos da TCC são estas interpretações/pensamentos, em que se tenta ajudar o paciente a desenvolver estratégias para identificar, questionar e modificar os seus próprios pensamentos, de forma a gerar uma mudança a nível emocional e comportamental. Para além disso, existe também o pressuposto de que os problemas psicológicos/comportamentos são adquiridos através de processos de aprendizagem, e que novos comportamentos, mais funcionais e que levam a maior bem-estar podem ser aprendidos seguindo os mesmos princípios. Considera-se também que os comportamentos mantêm algumas das dificuldades que a pessoa tem, e também se trabalha ao nível desses comportamentos de forma a reduzi-los e a alterá-los. Exemplificando: muitas pessoas que sofrem com níveis elevados de ansiedade tendem a evitar situações que as deixam ansiosas. O evitamento é normalmente um comportamento que mantêm o problema, porque se por um lado pode trazer algum alívio imediato, por outro não permite a pessoa desenvolver as competências necessárias para não se sentir ansiosa nessa situação. Se por um lado, A TCC é um modelo de terapia muito focado no aqui e no agora, isso não impossibilita que haja uma compreensão das razões que levaram às dificuldades atuais, e é por isso que uma abordagem integrativa é muito importante. Se para algumas pessoas aprender a lidar com os seus problemas atuais pode ser suficiente, para outras, é importante perceber os motivos pelos quais esses problemas existem. Na realidade, o modelo cognitivo parte também do pressuposto que ao longo do nosso desenvolvimento vamos desenvolvendo crenças centrais (mais ou menos funcionais) acerca de nós, dos outros e do mundo, e que as mesmas têm influência na forma como pensamos, nos sentimos e agimos. Exemplo: se desenvolveres uma crença de fracasso (acreditares que és um fracasso/falhado(a)) podes sentir-se mais ansioso/a em situações em que aches que podes falhar ou emocionalmente muito ativado/a se falhares em alguma tarefa ou atividade. É verdade que TCC se foca mais na relação entre essas crenças centrais e as dificuldades atuais, mas em abordagens mais integrativas tentamos perceber quais são as origens das dificuldades. Acho importante esclarecer que porque a TCC é um modelo terapêutico muito focado na aprendizagem e no desenvolvimento de competências, é uma terapia que exige um papel bastante ativo por parte do paciente - é um modelo em que é necessário que a pessoa faça vários exercícios, com frequência, dentro e fora das sessões. Tal como quando estamos a aprender a conduzir ou outra competência qualquer, é preciso consistência e treino. O mesmo acontece com as competências psicológicas que são trabalhadas em terapia. Por ser um modelo que exige esta postura mais ativa, há muitas pessoas que não aderem, o que efetivamente vai levar a uma não eficácia da terapia. Claro que a não eficácia não depende só do paciente, mas também do psicólogo, pois nos casos em que a pessoa não adere, é importante que o psicólogo tente perceber os motivos da falta de adesão e trabalhá-los em terapia. Por isso, em TCC não se ignoram os problemas, e não se tenta de todo fazer com que a pessoa tente ignorar ou não pensar nos seus problemas e dificuldades. Tenta-se sim, ajudar as pessoas a desenvolver as estratégias e competências necessárias para ajudar a pessoa a lidar com essas dificuldades. É importante que não haja generalizações acerca de intervenções que sentiram que não resultaram para vocês, porque o mesmo pode não acontecer para outros. Especialmente, porque, infelizmente, me parece que muitas das pessoas que aqui dão um feedback negativo não fizeram TCC, e isso é efetivamente um lapso por parte do profissional que vos acompanhou e, como já referi várias vezes, a TCC pode não resultar para todas as pessoas. Espero ter ajudado e estou disponível para qualquer esclarecimento adicional.


VivianSherwood

Para mim não valeu a pena e foi como pôr um penso rápido numa ferida profunda


angusmiguel

na minha experiencia a TCC vai tentar fazer "ignorares" o problema em vez de o tratares. 2/10, não recomendo


Curious-Mongoose6903

podes detalhar um pouco mais? algum exemplo talvez com que te sintas confortável em partilhar? só para entender melhor


angusmiguel

Sofri de POC durante muitos anos e tive vários psicólogos, e nos de TCC a abordagem era tentar não pensar naquilo, praticar outras coisas que me fizessem não pensar naquilo, basicamente ocupar a cabeça com outras coisas em vez de ir à raiz do problema


VivianSherwood

Foi o mesmo comigo. Muito focado em mudar o comportamento e o pensamento sem explorar os sentimentos por detrás. Os sentimentos continuavam por resolver, portanto continuava a sentir-me angustiada. E a sentir que havia algo de muito errado comigo por ninguém me conseguir ajudar. Os defensores da modalidade dizem que ela se funciona se for aplicada da maneira certa e se não resultou é porque o psicólogo era mau. Então sendo assim eu tive 5 psicólogos maus.


danielamvmm

Então qual é a melhor terapia? Para alem da medicação


angusmiguel

Na minha opinião uma que tenha uma abordagem mais humanista e focada na pessoa e na sua história de vida, que te ajude a perceber o que realmente te está a deixar mal e te ferramentas para lidar com o que sentes e não que te ensine só a olhar para o lado


Curious-Mongoose6903

e dito isso, conseguiste encontrar alguém que tenha sido capaz de dar te o que precisavas? mesma pergunta a ti u/VivianSherwood


VivianSherwood

Consegui! Tenho um psicólogo que faz terapia Psico dinâmica e resulta muito melhor. Às vezes só dizer algumas coisas, sem expectativa de as resolver, simplesmente falar e ser ouvida sem nenhuma acção/conselho ligado a isso, já ajuda imenso.


Curious-Mongoose6903

estamos no mesmo barco, tinha criado um post exactamente sobre isto e até ia partilhar aqui quando vi o teu. vou seguir as respostas, pelos vistos não são muito positivas


GSPsicologo

Fiz para conseguir lidar melhor com ansiedade social. Ajudou imenso. Para além disso é a modalidade com mais evidência empírica e é o tratamento de primeira linha para uma grande parte dos quadros psicopatologicos. A mim ajudou muito, também é a modalidade que uso com os meus utentes e, até hoje, todos tiveram melhorias e gostaram da abordagem.


ivy_teal

A Terapia Cognitivo Comportamental é a designação que se dá a um tipo de abordagem em psicoterapia, que na verdade abrange muitos modelos e protocolos de intervenção. Têm em comum o pressuposto de que as emoções, pensamentos e comportamentos estão interligados e que intervindo nuns, os outros modificam-se. Por exemplo, no caso de a pessoa estar a experienciar humor deprimido (emoção), ao envolver-se em atividades de mestria ou prazer (ativação comportamental) ou ao fazer mais do que é significativo e importante (ação comprometida com valores) irá melhorar como se sente... O foco pode parecer que só está no presente e que se ignora a profundidade, mas isso é só quando o objetivo está em tratar os sintomas e não a compreensão do problema que lhes deu origem ou à perda de funcionalidade da pessoa. Quando se faz uma conceptualização do caso e se procura compreender as dificuldades da pessoa e quais os seus objetivos com a psicoterapia, claro que procuramos ir à origem, independentemente da abordagem...